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Animal Consciente

11 ago

Cientistas propõe agora que animais tem consciência de serem o que são. Isso poderia ser só mais um argumento para veganistas jogarem na sua cara toda aquela magreza e pele macia características de quem não utiliza um só produto de origem animal. Entretanto, paira no ar a chance de sermos a última geração a consumir animais. Podemos estar, nesse exato momento, entrando para a história da humanidade como os derradeiros humanos onívoros, aqueles que se aproveitavam de todos os camarões ecologicamente conscientes, simplesmente os colocando em tacinhas de coquetéis com molho rose.

Por mais que ainda seja uma proposta de um grupo de cientistas, não discordo do argumento. É óbvio que animais tem consciência do que são. Dúvido muito que uma vaca argentina, sem consciência alguma, daria bifes de chorizos tão gostosos como os feitos por elas. É preciso de uma lagosta com muita consciente para ter, debaixo de uma carapaça tão dura, uma carne tão saborosa. Salmões e atuns jamais seriam deliciosos como são se tivessem noção que suas vidas seriam somente nadar, nadar e nadar, sem que ninguém pudesse experimentá-los. Para salmões e atuns, morrer de velhice é que é sofrimento.

Não é o fato de animais sentirem emoções que deveria fazer com que não consumíssemos nada que vem deles. Afinal, os guepardos das savanas sabem muito bem o valor de um carpaccio de zebra e não estão nem ligando para o que elas acham disso. Nunca ouvi falar em baleias que se comoveram e solidariezaram com um cardume de sardinhas da mesma família que passava férias nas águas geladas do Pacífico Sul. Desconfio até que, se porcos tem almas e se elas vagam em busca de seus corpos, ficariam muito, muito felizes em como são tão bem aproveitados numa feijoada completa.

Tão pouco importa também o fato do homem ter mais consciência e poder que a maioria dos animais – porque nenhum animal é mais consciente do que a preguiça, que não tem pressa de nada porque sabe que, no fundo, não vale a pena tanto esforço. A evolução tá aí desde sempre, provando por A mais B, que só sobrevive quem está mais adaptado ao meio ambiente. No futuro, quando o homo sapiens evoluir, seremos todos taxados de “aquele animal que precisava de outros animais para sobreviver”. Triste julgamento. Felizes foram os dinossauros que, antes de entrarem na decadência da espécie, morreram sem que nennhuma outra espécie, nem a deles próprios, os julgassem por seus hábitos alimentares.

Diálogos Comigo

12 jul

– Eu sou bom em escrever diálogos.
– Quem disse?
– Eu mesmo.
– E desde quando você é parâmetro?
– Desde quando comecei a escrever esse diálogo entre eu e você, que sou eu mesmo.
– O que deixa muito mais fácil, não?
– De certa forma.
– De todas as formas.
– Não é tão fácil como você pensa.
– Nós pensamos.
– Oi?!
– Quando você fala você quer dizer eu também. No caso, você. Ou seja, nós.
– …
– Deixa pra lá. Mas, me diga, por que não é tão fácil?
– Porque eu sempre…
– Nós.
– Hein?!
– Esquece. Continua.
– Porque sempre que eu faço uma pergunta, tenho que ter uma resposta pronta.
– Nem sempre.
– Como não?
– …
– …
– Viu?
– Viu o que?
– Ah! Como você é burro!
– Nós.
– Nós o que?
– Nós somos burros.
– Ah, vá…

 

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– Daí que eu sou bom mesmo em começar diálogos.
– Como assim?
– Eu consigo começar bem um diálogo, mas não consigo pensar num desfecho bom.
– E por que você acha que consegue começar bem?
– Porque eu conheço boas palavras pra começar um diálogo.
– Quais?
– “Daí” é uma. Todo texto que começa com “Daí” tem grande potencial de ser bom.
– Não é o caso desse.
– Claro que é. Todo mundo que tá lendo isso agora tá pensando que vai ser um texto genial. No mínimo, bom.
– Mas esse diálogo não é bom.
– Não, não é. Mas tinha grande potencial.
– Só por causa do “Daí”?
– Exato.
– Se ele tinha potencial, por que ele não é bom?
– Porque o final é péssimo.
– E como você sabe que o final é ruim?
– Porque ele vai acabar numa hora que eu não gosto muito.
– Então termina depois.
– Não consigo. Eu sou só bom em começar diálogos.
– E daí?
– Daí que vai parecer muito com aqueles textos ruins, cheios de ideiazinhas, que começam e terminam com a mesma palavra.

 

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– Sabe o que eu tô pensando?
– Sei.
– Como você sabe? Eu te contei?
– Vou ter que explicar de novo?
– O que que eu tô pensando?
– Mais uma vez essa discussão?
– Vai. Responde. O que que eu tô pensando?
– Sério, me recuso a continuar nesse diálogo.
– Á-RRÁ. Você não sabe de nada.
– Claro que sei, idiota.
– Ah, é? Então no que eu tô pensando?
– Em como terminar esse diálogo.
– Mas… mas… mas como você teve a audácia de responder isso?
– Ué, tô errado?
– Não, não tá.
– Então por que eu fui audacioso?
– Porque a primeira pergunta era retórica.

Bom, Mesmo Quando Ruim

27 jan

Pizza e sexo, dizem por aí, são as únicas coisas boas mesmo quando são ruins. É o tipo de coisa que todo mundo quer, em qualquer hora ou momento. Alguns acham um absurdo comparar sexo e pizza, mas existem motivos de sobra para, pelo menos, igualá-los. Ambos você pode pedir pelo telefone, são melhores aproveitados com vinho e ficam ainda mais gostosos com chocolate. O prazer é maior no sexo e isso poderia ser o grande diferencial. Só que a pizza, mesmo tamanho família, dá pra comer sozinho.

É claro que a preferência vai ser sempre pelo sexo. Porém, existem ocasiões em que você pode escolher a pizza sem ser motivo de piada nas próximas duas encarnações. Exemplo: passou o dia bebendo em um churrasco da turma da faculdade que não teve sequer carvão. A morena-de-shortinho-e-decote que você não lembra o nome, mas sabe que terminou o namoro só para estar lá, oferece carona no final da noite, na mesma hora que chegam as pizzas. Você fica na dúvida sobre o que comer primeiro: marguerita ou portuguesa?

Apesar de parecer, classificar uma pizza como ruim não é mais fácil que classificar sexo ruim. Para estabelecer como tal, tem que chegar ao ponto de falar na cara. Você precisa dizer o que não gostou, o porquê, como ficaria melhor e falar que nem sobre decreto de uma epístola papal voltaria a comer aquilo. Isso também vale para o sexo, com uma grande possibilidade de levar um tapa na cara entre uma reclamação e outra. Só é mais comum dizer que uma pizza tá ruim porque dificilmente você vai comer uma na mesma cama que o pizzaiolo. E um pizzaiolo nunca vai convencer o grupo de amigos dele a não vender uma meia aliche, meia calabresa para você, como fazem as mulheres com suas amigas.

Algumas comidas bateram na trave de boas, mesmo quando ruins. Brigadeiro só saiu da lista depois que inventaram leite condensado dietético. Sushi ruim até passaria, se não fosse a salmonela. Guisado da avó nunca é ruim. Achava-se, por exemplo, que todo queijo fosse bom. Aí os nutricionistas encontraram o tofú e o mito caiu. Antes que encontrassem algum problema no sorvete, no rocambole de goiabada – também conhecido como bolo de rolo – e na costelinha de ripa, definiram, de uma vez por todas, que a pizza é hors concours; que, mesmo sendo uma invenção italiana, a pizza é o Pelé dos alimentos.

É claro que sexo e pizza trazem prazeres distintos. Uma noite de sexo nunca vai matar a sua fome. E se uma pizza, por mais suculenta que esteja, é o suficiente para saciar o seu apetite sexual, você é um prato cheio para qualquer psicanalista. Também é possível que as duas coisas ao mesmo tempo não seja uma boa ideia. Fazer sexo enquanto devora uma pizza, além de causar indigestão, é totalmente brochante. Mas não se prenda às convenções tradicionalistas da culinária e da sociedade. Invente, crie e não tenha medo de errar. Para sexo e pizza, não há receita certa e nem limites. E, se numa tentativa de inovar, a pizza ou o sexo ficarem ruins, não tem problema. Vai ser bom do mesmo jeito.

Chicletes

17 ago

Antes de ler, pare e responda: você está mascando chiclete? Então pode jogar fora porque, provavelmente, já perdeu o sabor. Agora me diz se você consegue entender esse seu ato repugnante de colocar componentes de petróleo e sabores artificiais na boca e transfomá-lo numa cáca nojenta e cheia de saliva?

Não é o fato de você gostar de morango que dá autorização de mascar chicletes sabor artificial de morango. Sabe o que é tão gostoso quanto chicletes sabor abacaxi? O próprio abacaxi! Não existe razão para você mascar algo que imita o sabor de frutas por 10 minutos. Em 5 minutos você consegue comer duas bananas, que são muito mais nutritivas e gostosas que o corante amarelo chamado Bubbaloo Banana.

E quem foi o grande sábio que deu a ideia de um chiclete de canela? Se não é boa naturalmente, não tinha jeito de ficar boa artificialmente. Não esqueça também das combinações de sabores que só fazem sentido para uma criança hiperativa. Essas, que não consegem se concentrar em um único sabor, ficam distraídas por alguns minutos tentando separar os sabores de mirtilo, noz de cola e kiwi silvestre, encontrados todos na mesma caixinha.

Existe uma família de chicletes (que não é a Addams) ‘naturais’. Vendidos em lojas de produtos verdes e naturais, esses chicletes trazem a promessa de não terem nenhuma parte artificial. Alguém precisa combater essa mentira. Esses chicletes são mais artificiais que os filhos do Gugu. Chicletes são naturalmente artificiais.

Deve existir alguma lei global que impede os chicletes de serem vendidos por unidade. Nunca ninguém comprou apenas um. Até mesmo quem compra aquela tradicional caixinha amarela está levando, na verdade, dois. Não satisfeitas, as pessoas fazem questão de oferecer chicletes e repassar esse péssimo hábito de ficar igual bode no pasto.

Só existem duas razões nesse mundo que dão autorização irrefutável para mascar chicletes: 1) problemas de arcada dentária, que exigem a mastigação como terapia; 2) ser o MacGyver e estar na urgência de fechar um vazamento. Caso não esteja nas condições acima, pode ir tirando esse chiclete imundo que você colocou na boca, logo depois de ter lido o primeiro parágrafo e jogado fora aquela coisa sem gosto.

Cazuza ou Grande Otelo?

13 ago

Mais uma eleição chega e você fica naquela dúvida. Nem tanto pelos cargos executivos. Afinal você tem que lembrar de alguém para falar mal e culpar nas próximas eleições. Mas atire a primeira pedra quem lembra aí de todos os vereadores, deputados e senadores que votou nas, pelo menos, duas últimas eleições. Pois é, quase impossível. E a culpa não é deles. Nunca é. A culpa é sua, eleitor, que não procura ler o Diário Oficial e ver a TV Câmara, esses dois meios de comunicação tão populares quanto o Dunga e tão empolgantes quanto Serra, Dilma e Marina jogando bocha bielorussa, valendo pela 4a. Divisão do Campeonato Nacional do Turcomenistão.

Daí que começam as campanhas políticas. Você começa a prestar mais atenção nos jornais, na TV, no sermão do padre na missa de domingo e, principalmente, nos debates. Pior: tem gente que, além de torcer no debate, vê resultado. Sério, como é que alguém pode dar vencedor num debate? Qual é a contagem de pontos oficial do debate? Acusou a opisição: 10 pontos; revidou na réplica: 15 pontos; estorou o tempo da tréplica: -5 pontos; é amigo do dono da emissora: venceu. Quer ver uma idéia legal para melhorar os debates? Torcida. Tinha que ser no meio de um ginásio (no caso de presidentes, Maracanã), ingresso na mão do cambista, bateria, vuvuzela e tudo o mais. Só que, ao invés de jogar o rolo de papel higiênico quando o seu candidato entrar em campo, joga no oponente, para dar a enteder que ele é um merda. E daí que ninguém vai ouvir o que cada um vai falar? Até o reveillon você não vai se lembrar mais de nada.

Vote Grande Otelo

Outra coisa que incomoda em época de eleição é esse pessoal dizendo “Não sei. Estou em cima do muro”. A única razão para ter tanta gente em cima do muro é o fato desse muro não ter cerca elétrica (o que é incabível para quem vota em urna eletrônica). Querido, qual é a sua dúvida? Você quer saber se ele vai continuar o plano ecônomico, se vai investir mais na educação ou se ele amigo do tio do seu cunhado? Ou você precisa de mais uns dias pra decidir entre Tiririca e Mulher Melão? Ou melhor: aquele ex-governador ladrão do seu Estado.

Opção 2Não acho que as eleições no Brasil não são democráticas. O problema não é esse. O problema é que elas não são divertidas, principalmente depois da urna eletrônica. Antigamente ainda dava pra votar no macaco Tião ou no Cacareco. Hoje em dia, com urnas eletrônicas, a única piada que você pode fazer é dizer que vai votar no Cazuza ou no Grande Othelo. Devia ter outra coisa mais animada para as eleições. Sou a favor, por exemplo, de uma outra forma de contagem de votos. Devia ser tipo a apuração das Escolas de Samba do Rio. Vai dizer que não ia ser legal? “Comissão de obra: 10. Dez por cento por fora. Mestre-Roubo e Porta-Moeda: nove e meio, mas nada que 10% da obra não resolvam. Evolução (de bens pessoais): 8 ponto 5. Milhões.” Tudo isso, é claro, com a voz do apurador dos votos no Rio. E narração do Cleber Machado, por favor.

Dia de eleição até que é legal. Geralmente acorda cedo porque você não encheu a cara no dia anterior (lembra da Lei Seca?). Enrola um pouquinho para ir no seu colégio eleitoral, porque chamar de zona é piada pronta. Sempre tem aquele almoço diferente. Se não está a família reuinida, é restaurante. Gente nas ruas, mais gente nos bares na contagem regressiva para dar cinco da tarde. Toda aquela apreensão se vai ser preciso segundo turno e, se for segundo turno, toda a apreensão pra chegada do Carnaval. Para os mais folgados, é só ficar jogado na cama, vendo os plantões na TV, só pra ver os famosos votarem. Enfim, é um domingo legal, diferente dos outros. Só o que estraga o dia da eleição mesmo é ter que votar.

Não. Celular no avião, não.

20 jan

Sinceramente? Eu sou muito a favor de proibição de celulares em aviões. Sério mesmo. Ainda mais em épocas de passagens baratas. Já pensou o número de fudidos ligando pra dizer que estão “vuando”? Na boa, pra que você precisa de um celular ligado num avião? Não é como no carro que, de minuto em minuto, alguém te liga pra saber onde está. “Olha, a gente acabou de passar na fronteira de Goias com Minas. Já estamos chegando.” E se for pra dizer que vai atrasar, dane-se. Se tem alguém te esperando no aeroporto, é só ver na tela de aviso o número do vôo e ver se está no horário ou atrasado. Pronto, é isso. Mas imagina se liberam isso. Ligação para você.

– Alô?
– Oi, Fulano. Onde você tá?
– Cara, no avião.
– Mas aonde? Em que local?
– Sei lá.
– Mas vai atrasar?
– Eu realmente não sei.
– Por que se atrasar eu não vou poder esperar aqui no aeroporto.
– Peraí que eu vou mandar o piloto acelerar aqui, beleza?

Pra que usar telefone dentro de um avião, meu Deus? “Hum! Esse lanche não tá bom. Vou pedir uma pizza. Alô? Vê uma pizza metade calabresa e a outra metade portuguesa. Não, não. Portuguesa tem ovo e ai no avião é meio ruim. Vê a outra metade presunto mesmo. A entrega? Olha, se correr ainda dá pra deixar no aeroporto de Brasília, que é onde eu vou fazer conexão.”E aí vai ter gente que vai dizer: “Mas se for alguma urgência?” Dane-se. Que tipo de urgência você vai conseguir resolver num meio de um vôo? “Aeromoça, por favor: Você pode trazer um copo de água? É que a minha casa tá pegando fogo a 30.000 pés de altura. Pede pro piloto passar bem em cima pra eu poder apagar o incêndio.”

Eu sou a favor de tudo dentro do avião: Laptop, Nintendo DS, PSP, cigarro, sexo, cigarro depois do sexo etc. Menos celular. A não ser que permitam o celular somente durante o vôo. Se você só pudesse usar celular numa viagem de avião eu concordaria 100%. Assim que o avião pousasse, a comissária falaria: “É terminantemente proibido o uso de aparelhos celulares em terra. A ANAC só recomenda o uso de aparelhos celulares acima dos 20.000 pés de altitude.”

A Arte de Procrastinas ou Como Eu Parei de Enrolar para Escrever Esse Texto

5 out

Procrastinar é uma arte. Não fazer amanhã aquilo que você pode fazer depois de amanhã tem lá seus desafios. O ato de enrolar até a última hora exige muita criatividade e jogo de cintura. A humanidade é a maior prova disso. Grandes mudanças só ocorreram nas vésperas do pior acontecer. E se aconteceu, é sinal que não era tão pior assim. Tanto que ainda estamos por aqui.

Não confunda procrastinação com pregruiça. Aliás, chamar alguém de preguiçoso não deveria ser uma ofensa. A preguiça não é pecado. Se bem praticada, a preguiça é uma dádiva. Os preguiçosos conseguem apreciar mais do que ninguém cada minuto da vida. Principalmente aqueles cinco minutinhos que ficam entre o despetador e o olhos abertos.

Também não confundir procrastinador artista com artista procrastinador. O procrastinador artista é aquele que mede exatamente o tempo entre o “Cedo demais” e o “Me fodi”. Já o artista procrastinador é o profissional da arte que enrola para fazer seu trabalho. Com raríssimas exceções – desconhecidas até hoje – artista procrastinador é um pleonamo. E do vicioso.

O procrastinador autêntico, o de raiz, tem timing. Mais do que ninguém ele sabe quando começar um trabalho, mesmo que falte dez minutos. Quem procrastina bem está um passo a frente das Leis de Murphy. É o único vício que o dependente sabe a hora de parar. Prazo curto é a maior liga do procrastinador. Não é a toa que passar muito tempo de férias é entediante. Não tem prazos estourando.

O que não vale é procrastinar a troco de nada. A má procrastinação é a que não tem justificativas. Se você enrola para ver o jogo do domingo, tudo bem, pelo menos você torceu e se divertiu. Agora se você continua vendo Faustão depois, aí não tem como forçar. Você pode enrolar para ler Douglas Adams, mas não para Paulo Coelho. Você deve assistir O Poderoso Chefão pela vigésima vez, mas Rambo IV pela primeira é desperdiçar tempo.

Infelizmente algumas pessoas não entendem essa arte. Pensam que qualquer distração é procrastinar. Mentira. Para se tornar um procrastinador artista existe uma regra básica: só procrastine por algo que seja mais interessante que suas prioridades. Sexo é a melhor forma de procrastinar porque, se você não consegue cumprir o prazo, pelo menos você não se fode sozinho.

Para se tornar um grande procrastinador artista é preciso treino. Muitas pessoas tem esse talento nato. Outras aprendem com o tempo. No fundo, a arte da procrastinação é igual a todas. Depende muito mais da intenção do que da interpretação. Quem vê essa arte sendo feita precisa entender o porquê. Senão é como alguém que vê uma obra de Picasso sem ter conhecimento: “É um espanhol maluco que teve preguiça de pintar um quadro direito.”

God@heaven.org

25 mar

A internet é divina. Como assim ninguém sabia disso? Pra fazer as pessoas perderem tanto tempo, com tanta devoção a blogs, twitters, orkuts, facebooks ou qualquer-site-modinha-da-hora, só com uma devoção divína. Internet virou religião. Uma crença com verdades tão convenientes quanto a Bíblia. O que eu já li de reportagem falando que tem gente vendo Orkut para interesse profissional não é brincadeira.

E hoje eu recebi um email de Deus. Juro! O título do email é DE UM SER SUPERIOR PARA VOCÊ. Como tô morando no décimo andar e pela primeira vez em apartamento, cheguei a pensar que fosse um dos meus vizinhos de cima. Mas logo vi que se tratava do Pai-Nosso. Ele assina o email logo no início, para não haver desconfiança de que possa ser um fake Dele. O Vitor Fasano sabe muito bem o que é isso.

O email é assim: “Olá, eu sou Deus. Hoje eu estarei cuidando de todos os seus problemas para você. Eu não precisarei da sua ajuda. Assim sendo, tenha uma ótimo dia. Amo você.” Depois de receber isso, vou seguir o Primeiro Mandamento como nunca segui. Pra quem não lembra: “Amarás a Teu Deus sobre todas as coisas”. Que assim seja. Tô com tanto job pra terminar que, se conseguir terminar tudo hoje, vai ser um milagre mesmo. Tomára que Ele intervenha na cabeça do meu professor e faça com que ele aprove de primeira minhas idéias.

O email segue melhor ainda. O P.S.(post scriptum) do email é bem maior que o texto principal. Nele Deus me diz que se eu tiver uma situação que eu não consiga “lidar”(queria saber se isso realmente é um verbo e como conjuga no presente, na primeira pessoa do singular) é para eu por na caixinha APDF. Como só conheço dois tipos de caixa, a Caixa de Entrada e a Caixa de SPAM, não sabia o que fazer até ler, um pouco mais a frente, que APDF é uma abreviação de Algo Para Deus Fazer. Mas o email diz que tudo o que eu colocar lá vai ser resolvido, como o Próprio escreve, no Meu Tempo (no Tempo Dele!). Ou seja: se fosse publicitário, Deus ia penar com os prazos.

O legal nesse email é que Deus não pede que eu envie para nenhum amigo. Mas ficaria muito grato caso eu enviasse. Isso não caracteriza o email como corrente, já que nem Deus, que é Deus, pede que eu faça isso. Mas juro que fiquei chateado quando Ele jogou na minha cara que Ele deu para a humanidade um presente único: o Livre Arbítrio. Fiquei confuso. Posso até estar enganado, mas Jesus fala, em algum momento, sobre os milagres que realiza e a única coisa que ele pode cobrar é a devoção a Seu Pai. Isso eu tenho bastante. Ou ninguém percebeu que quando eu falo de Deus eu sempre boto o nome Dele com letra maiúscula no começo?

Só duas coisas me preocupam mesmo: os erros de português e algumas pessoas que acham que são Deus. Tem um trecho em que Ele escreve “Se a vida te trazer uma situação que você não consegue lidar, não tente resolvê-la por você mesmo(a)!”. Se a vida me trazer alguma coisa assim eu juro que contrato um professor de português, quando a vida me trouxer uma graninha para pagá-lo. Aí ele poderá me trazer conhecimento, e Ele, sabedoria.

Mas a minha maior preocupação é com as pessoas que querem transformar essa mensagem divina em corrente. Olha só como muda da água para o vinho (entendeu? entendeu?):

Deus têm visto suas lutas.
Deus diz: elas estão chegando ao fim!
Uma benção está vindo em sua direção. Se você crê em Deus, por favor envie esta mensagem para 10 pessoas. Por favor não ignore. Você está sendo testado(a)!
Você têm 20 minutos para contar a 10 amigos que você os ama.

Dá pra ver que o eu-lírico do email mudou totalmente. É um humano escrevendo. Dizendo que Deus tá me vendo. É claro. Pra Ele eu sempre fico visível. Na vida e no MSN. Dizendo que minhas lutas estão chegando ao fim. Acabei de começar uma especialização. Quer dizer que eu não vou ter condições de terminar os dois anos? Será que eu vou reprovar? E, no final de tudo, eu tenho que passar a mensagem em 20 minutos para 10 amigos, dizendo que eu os amo. Mas eu vivo dizendo isso para meus amigos, principalmente sobre o efeito de vinho (que é sagrado!). Sabe o que eu fiz com o email? Botei na Caixinha APDF. Isso é Algo para Deus fazer. Mas no Seu Tempo, e não em 20 minutos.

P.S.: É isso que é um post scriptum.

P.S. 2: Pode ter mais de um.

P.S. 3: Apesar do texto iconoclasta, eu não sou ateu e sim, acredito em Deus. Mas é uma discussão que não cabe nesse blog.

P.S. 4: Deus, se você tiver lendo meu blog, me perdoe por algo que escreve. Esse livre arbítrio é complicado!

P.S. 5: Deus, se você estiver mesmo lendo meu blog, dá uma força pra uma amiga que está chegando por aí. Ela merece muito. Infelizmente a gente aqui embaixo ainda não aprendeu a lidar com essas situações e, por isso, essa eu já coloquei na Caixinha APDF, porque perder um amigo é algo que eu nunca vou conseguir resolver.

Mas e o Fenômeno?

10 mar

Conversa de amigos entrando no estádio.
– O Fenômeno vai estrear hoje.
– Não vai não.
– Vai, “homi”. Tudo quanto é jornal tá dizendo isso. Disseram até que ele pediu pra jogar.
– Ele pode até ter pedido, mas não vai entrar em campo de jeito nenhum.
– Mas então por que tá todo mundo dizendo isso? Saiu até na Globo.
– Aí já não é problema meu. Vou valendo uma 20 reais e uma chulipa.
– Rapaz, eu vou apostar com você.
– Então tá feito.
– Então tá. – O homem, mesmo na dúvida, ficou na aposta.
Vinte e cinco minutos do segundo tempo.
– Tem substituição no Coringão. Olha lá! Lá vem o homem entrando. É o Fenômeno.
– Olhe bem. Acho que não é não.
– Ô, sô! Tá me chamando de mentiroso ou tá com raiva porque perdeu a aposta? É ele sim. Olhe aí, camisa número 9 nas costas, dente pra frente e a barriga.
– Então “vamo” esperar ele fazer alguma coisa dos tempos que jogava no estrangeiro pra ver se é ele mesmo.
– Mas você não tá vendo que é ele, cabra teimoso? Me paga logo os 20 reais e a chulipa.
– Dou no final do jogo. Tá ruim de pegar o dinheiro no bolso com esse povo todo aqui.
– Então tá!
Final do jogo. 2 a 0 do Corinthians em cima do Itumbiara pela Copa do Brasil.
– É, já dá pra tirar o dinheiro da aposta. “Vamo” logo que eu quero ir pra casa.
– Mas quem disse que eu perdi a aposta?
– Mas que cabra safado. Você viu o homem entrar lá e não tá querendo pagar a aposta.
– Não vi nada. O Fenômeno não entrou em momento nenhum do jogo.
– Claro que entrou. Segundo tempo, número 9 do Corinthians. Ou vai dizer que você tem amnésia e não viu o Ronaldo entrar?
– Ah! O Ronaldo eu vi entrar, sim.
– Então? Você perdeu a aposta.
– Perdi nada.
– Claro que perdeu. Acabou de dizer que viu o Ronaldo entrar.
– O Ronaldo entrou, mas e o Fenômeno?
– Mas, mas… – Pensou, pensou e, sem encontrar desculpas, tirou 20 reais do bolso e deu ao amigo.
– E o braço pra chulipa, cadê?

Sonho Dourado acabou pra Cinderela

21 ago

Sempre achei o Diego Hypólito dourado demais, brilhoso demais. Parece que toma banho com Lustramóveis e se ensaboa com cera da 3M. Vez ou outra ele passa talco de purpurina. Juro que não torcia contra ele, mas que ele mereceu, mereceu. Antes de mais nada é preciso respeitar os adversários e sempre, sempre lembrar que “cautela e canja de galinha não fazem mal a ninguém”. A cautela ele não teve em entrevistas e declarações, mas quando ele caiu parecia uma galinha tentando voar.

A vontade que eu tive depois de ver a final era gritar na cara dele: “Ouro de cú é rola!”. Era bem provável que ele gostasse. E, sinceramente, cair de bunda é com ele mesmo. Cair de bunda, cair de boca, cair em cima… Nessas modalidades ele é medalha de ouro. Ou melhor, ele é ANEL DE COURO. E também acho que ele deveria competir em outra modalidade da ginástica: nas argolas. E se tem uma coisa que eu não gosto nas irmãs Hypólito é que são muito metidas (sem trocadilho).

Diego, um conselho: para Londres, em 2012, leva na bagagem um pouco de humildade. Ah! E por favor: devolve a vara da Fabiana Murrer.