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Diálogos Comigo

12 jul

– Eu sou bom em escrever diálogos.
– Quem disse?
– Eu mesmo.
– E desde quando você é parâmetro?
– Desde quando comecei a escrever esse diálogo entre eu e você, que sou eu mesmo.
– O que deixa muito mais fácil, não?
– De certa forma.
– De todas as formas.
– Não é tão fácil como você pensa.
– Nós pensamos.
– Oi?!
– Quando você fala você quer dizer eu também. No caso, você. Ou seja, nós.
– …
– Deixa pra lá. Mas, me diga, por que não é tão fácil?
– Porque eu sempre…
– Nós.
– Hein?!
– Esquece. Continua.
– Porque sempre que eu faço uma pergunta, tenho que ter uma resposta pronta.
– Nem sempre.
– Como não?
– …
– …
– Viu?
– Viu o que?
– Ah! Como você é burro!
– Nós.
– Nós o que?
– Nós somos burros.
– Ah, vá…

 

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– Daí que eu sou bom mesmo em começar diálogos.
– Como assim?
– Eu consigo começar bem um diálogo, mas não consigo pensar num desfecho bom.
– E por que você acha que consegue começar bem?
– Porque eu conheço boas palavras pra começar um diálogo.
– Quais?
– “Daí” é uma. Todo texto que começa com “Daí” tem grande potencial de ser bom.
– Não é o caso desse.
– Claro que é. Todo mundo que tá lendo isso agora tá pensando que vai ser um texto genial. No mínimo, bom.
– Mas esse diálogo não é bom.
– Não, não é. Mas tinha grande potencial.
– Só por causa do “Daí”?
– Exato.
– Se ele tinha potencial, por que ele não é bom?
– Porque o final é péssimo.
– E como você sabe que o final é ruim?
– Porque ele vai acabar numa hora que eu não gosto muito.
– Então termina depois.
– Não consigo. Eu sou só bom em começar diálogos.
– E daí?
– Daí que vai parecer muito com aqueles textos ruins, cheios de ideiazinhas, que começam e terminam com a mesma palavra.

 

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– Sabe o que eu tô pensando?
– Sei.
– Como você sabe? Eu te contei?
– Vou ter que explicar de novo?
– O que que eu tô pensando?
– Mais uma vez essa discussão?
– Vai. Responde. O que que eu tô pensando?
– Sério, me recuso a continuar nesse diálogo.
– Á-RRÁ. Você não sabe de nada.
– Claro que sei, idiota.
– Ah, é? Então no que eu tô pensando?
– Em como terminar esse diálogo.
– Mas… mas… mas como você teve a audácia de responder isso?
– Ué, tô errado?
– Não, não tá.
– Então por que eu fui audacioso?
– Porque a primeira pergunta era retórica.